quarta-feira, 1 de abril de 2015

Fragmento do livro "Eu sou o mensageiro"

"Quando ela dorme no meu sofá, fico pensando nisso tudo. É sempre assim. Eu coloco o cobertor em cima dela, daí vou pra cama e sonho.

De olhos abertos."

"As nuvens descobrem a Lua e eu fico me sentindo pelado. Como se o mundo pudesse me ver."

"Tenho quase certeza de que ela falou alguma coisa com a chaleira, como se estivesse falando com uma criança. Como se a chaleira fosse um bebê chorando.

Fiquei meio deprê ao pensar que um ser humano pudesse ser tão solitário a ponto de se consolar com a companhia de utensílios domésticos que apitam e de se sentar sozinho pra comer.'

' engraçado que sempre que a gente vê alguém de longe, tudo parece sem som. É como assistir a um filme mudo. A gente fica imaginando o que as pessoas estão falando. Olhamos pro movimento das bocas e imaginamos o som dos pés delas batendo no chão. A gente fica tentando imaginar sobre o que estão conversando e, mais ainda, no que estão pensando.'

'— Tenho que lhe contar uma coisa, Ed. Dou uma parada também. — O que é, padre? — Sabe, dizem que há inúmeros santos que não têm nada a ver com a Igreja e praticamente não têm nenhum conhecimento de Deus. Mas dizem que Deus anda com essas pessoas sem que elas se dêem conta disso — os olhos dele estão dentro de mim agora, acompanhados pelas palavras. — Você é uma dessas pessoas, Ed. É uma honra conhecê-lo.'

'Percebo que nada pertence mais a ela, e ela pertence a tudo. Angie chora, por um momento, enquanto observa. Ela se permite pelo menos isso. Na cara, lágrimas rolando; nos lábios, doce sorvete. Não tem mais o mesmo sabor.'

'UM MOMENTO DE BELEZA

 Enquanto as crianças dançam no jardim sob o céu noturno e as luzes, vejo uma coisa. Lua e Marie estão de mãos dadas. Parecem muito felizes, curtindo este momento, vendo as crianças e as luzes em sua velha casa de alvenaria. Lua beija Marie. É só um beijinho de leve nos lábios. E ela retribui o beijinho.
Às vezes as pessoas são bonitas.
Não pela aparência física.
Nem pelo que dizem.
Só pelo que são'


'O céu está todo estrelado, dando uma baita vida à noite, e quando eu me deito e olho pra cima, fico até perdido. Tenho a sensação de que estou caindo, só que pra cima, no abismo do céu sobre mim.'

'—Mãe? [
— O que é?
 — Por que você me odeia tanto?
 E agora esta mulher olha pra mim, enquanto eu faço de tudo para que meus olhos não me entreguem.
Curta e grossa, ela responde: — Porque você se parece com ele, Ed. Ele? A ficha cai. Ele — meu pai. Ela entra e bate a porta. Cara, já tive que levar um homem lá pra cima na Catedral e tentar matá-lo. Já recebi a visita de dois matadores profissionais que comeram torta na minha cozinha e me deitaram no chão. Já levei uma surra de um grupo de moleques. Mas é agora que me sinto passando pelo pior momento da minha vida. De pé. Magoado. Na varanda da casa da minha mãe. O céu se abre agora, se desmoronando.'

'é preciso muito amor para te odiar dessa forma.'

'Quero que alguém diga algumas palavras no meu velório. Mas acho que isso significa que o cara precisa de vida em sua vida.'

' Ele diz: — Nossas vidas são isso, Ed — ele agora está com essa história de que as coisas passam correndo pela gente. — Tô com 20 anos na cara e... — a tattoo de Hendrix-Pryor pisca pra mim sob o luar. — Olha só pra mim: não tem nada que eu queira fazer.

 É inegável como a verdade pode ser brutal às vezes. Só dá pra admirá-la.'

'— Ed? — Ritchie diz mais tarde. Ainda estamos dentro da água. — Só tem uma coisa que eu quero. — O que é, Ritchie? Sua resposta é simples: — Querer'

' Sinto o cheiro de sexo nela, e minha única esperança é de que ela sinta o cheiro do amor em mim.'

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