"Quando ela dorme no meu sofá, fico pensando nisso tudo. É sempre assim. Eu coloco o cobertor em cima dela, daí vou pra cama e sonho.
De olhos abertos."
"As nuvens descobrem a Lua e eu fico me sentindo pelado. Como se o mundo pudesse me ver."
"Tenho quase certeza de que ela falou alguma coisa com a chaleira, como se estivesse falando com uma criança. Como se a chaleira fosse um bebê chorando.
Fiquei meio deprê ao pensar que um ser humano pudesse ser tão solitário a ponto de se consolar com a companhia de utensílios domésticos que apitam e de se sentar sozinho pra comer.'
' engraçado que sempre que a gente vê alguém
de longe, tudo parece sem som. É como assistir a um
filme mudo. A gente fica imaginando o que as pessoas
estão falando. Olhamos pro movimento das bocas e
imaginamos o som dos pés delas batendo no chão. A
gente fica tentando imaginar sobre o que estão
conversando e, mais ainda, no que estão pensando.'
'— Tenho que lhe contar uma coisa, Ed.
Dou uma parada também.
— O que é, padre?
— Sabe, dizem que há inúmeros santos que não
têm nada a ver com a Igreja e praticamente não têm
nenhum conhecimento de Deus. Mas dizem que Deus
anda com essas pessoas sem que elas se dêem conta
disso — os olhos dele estão dentro de mim agora,
acompanhados pelas palavras. — Você é uma dessas
pessoas, Ed. É uma honra conhecê-lo.'
'Percebo que nada pertence mais a ela, e ela
pertence a tudo.
Angie chora, por um momento, enquanto
observa. Ela se permite pelo menos isso. Na cara,
lágrimas rolando; nos lábios, doce sorvete.
Não tem mais o mesmo sabor.'
'UM MOMENTO DE
BELEZA
Enquanto as crianças dançam no jardim sob o
céu noturno e as luzes, vejo uma coisa.
Lua e Marie estão de mãos dadas.
Parecem muito felizes, curtindo este momento,
vendo as crianças e as luzes em sua velha casa de
alvenaria.
Lua beija Marie.
É só um beijinho de leve nos lábios.
E ela retribui o beijinho.
Às vezes as pessoas são bonitas.
Não pela aparência física.
Nem pelo que dizem.
Só pelo que são'
'O céu está todo estrelado, dando uma baita vida
à noite, e quando eu me deito e olho pra cima, fico até
perdido. Tenho a sensação de que estou caindo, só
que pra cima, no abismo do céu sobre mim.'
'—Mãe? [
— O que é?
— Por que você me odeia tanto?
E agora esta mulher olha pra mim, enquanto eu
faço de tudo para que meus olhos não me entreguem.
Curta e grossa, ela responde:
— Porque você se parece com ele, Ed.
Ele?
A ficha cai.
Ele — meu pai.
Ela entra e bate a porta.
Cara, já tive que levar um homem lá pra cima na
Catedral e tentar matá-lo. Já recebi a visita de dois
matadores profissionais que comeram torta na minha
cozinha e me deitaram no chão. Já levei uma surra de
um grupo de moleques.
Mas é agora que me sinto passando pelo pior
momento da minha vida.
De pé.
Magoado.
Na varanda da casa da minha mãe.
O céu se abre agora, se desmoronando.'
'é preciso muito amor para te odiar dessa forma.'
'Quero que alguém diga algumas palavras no meu
velório.
Mas acho que isso significa que o cara precisa de
vida em sua vida.'
' Ele diz:
— Nossas vidas são isso, Ed — ele agora está
com essa história de que as coisas passam correndo
pela gente. — Tô com 20 anos na cara e... — a tattoo
de Hendrix-Pryor pisca pra mim sob o luar. — Olha
só pra mim: não tem nada que eu queira fazer.
É inegável como a verdade pode ser brutal às
vezes. Só dá pra admirá-la.'
'— Ed? — Ritchie diz mais tarde. Ainda estamos
dentro da água. — Só tem uma coisa que eu quero.
— O que é, Ritchie?
Sua resposta é simples:
— Querer'
' Sinto o cheiro de
sexo nela, e minha única esperança é de que ela sinta o
cheiro do amor em mim.'
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